Um babalaô me contou

“Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.

Antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou
Eles foram completamente esquecidos;
Não se tornaram orixás.

Em cada vila, um culto se estabeleceu
Sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração para
render-lhes homenagem”.

Pierre Fatumbi Verger

domingo, 14 de junho de 2009

Por que Oxala usa Ekodide

Por que Osala usa Ekodide (transcrição do livro Porque Oxalá usa Ekodidé - Deoscóredes M dos Santos-DIDI - Edição Cavaleiro da Lua - Fundação Cultural do Estado da Bahia - foi mantida a ortografia original do manuscrito)

Muito tempo depois que Oduduwa chegou em Ilê Ifé e começaram a adorar o culto das Águas de Oxalá, aconteceu que, logo no primeiro ano, quando estava perto das festas Oxalá escolheu uma senhora das mais velhas do terreiro, chamada Omon Oxum, para tomar conta de todo, ou melhor, de tôda sua roupa, adornos e apetrechos, depositando com tôda benevolência nas mãos dela aquele direito especial para tomar conta de tudo que lhe pertencesse, da corôa ao sapato.

Omon Oxum por nunca ter tido nenhum filho, criava uma menina. Dessa data em diante ela e a menina ficaram sendo odiadas por algumas pessoas que faziam parte nesse terreiro e que por inveja de Omon Oxum começaram a tramar novidades, procurando um meio qualquer para fazer Oxalá se zangar com ela e tomar o "achê" entregue por Oxalá. Fizeram coisas que Deus duvida contra Omon Oxum porém nada surtia efeito. Cada vez mais Oxalá ia aumentando a amisade e dedicação para Omon Oxum. Ela era muito devotada ao cumprimento das suas obrigações e não dava margem alguma para ser por êle repreendida.

Como dizem que a água dá na pedra até que fura, aconteceu que, na vespera do dia da festa, as invejosas, já desiludidas por poderem fazer o que desejavam, de passagem pela casa de Omon Oxum se depararam com a corôa de Oxalá que ela tinha areiado e colocado no sol para secar. Quando elas viram a corôa de Oxalá muito bonita e mais reluzente do que nunca, combinaram roubar a corôa e ir jogar no fundo do mar. E assim fizeram. Quando Omon Oxum foi apanhar a corôa para guardar, não encontrou. Ficou doida. Procura daquí procura dalí, remexeram com tudo procurando em todos os cantos da casa e nada da corôa aparecer. As invejosas vendo a aflição que estava passando Omon Oxum e sua filhinha, satisfeitas pelo mal que tinham causado, riam as gaiofadas dizendo: agora sim quero ver como ela vai se atá com Oxalá amanhã quando êle procurar a corôa e não encontrar.

A essa altura Omon Oxum comretamente azurantada só pensava em se matar e ja estava resolvida a fazer isso para não passar vergonha perante Oxalá. Foi quando a meninazinha, sua filha de criação disse: - Mamãe, porque a senhora não vai na feira amanhã de manhã bem cedinho e não compra o peixe mais bonito que tiver lá? A corôa de Oxalá deve estar na barriga desse peixe.

E assim a menina insistiu, insistiu tanto, até que Omon Oxum se decidiu a aceitar o que a menina aconselhou, dizendo:- Fique tanquila minha filha, porque de madrugadasinha eu vou acordar para ir à feira ver se encontro com esse peixe que voce imagina ter a corôa do nosso Rei Oxalá na barriga. A menina foi dormir tranquila. Omon Oxum coitada, não pôde dormir tôda a noite preocupada que já amanhecesse o dia para ela ir a feira ver se conseguia encontrar o dito peixe que a menina julgava ter a corôa na barriga. Quando o dia mal tinha clareado, Omon Oxum pulou da cama, se preparou e lá se foi. Quando ela chegou na feira foi diretamente no mercado de peixe e não encontrou nenhuma escama. Ainda éra muito cedo. Omon Oxum deu uma volta pela feira e já bastante impaciente voltou ao mercado onde encontrou um senhor vendendo um peixe, cujo peixe, era o único que se encontrava no mercado.

Omon Oxum comprou o peixe e foi voando para casa a fim de destrincha-lo. Queria ver se sua filha tinha aconselhado bem, para ela poder obter a paz e tranquilidade espiritual, encontrando a corôa de Oxalá. Assim que ela chegou em casa foi logo para a cosinha para abrir a barriga do peixe. Porém não conseguiu. Quando ela estava aí se acabando de chorar e labutando para abrir a barriga do peixe, a menina acordou e foi logo perguntando: - Mamãe já comprou o peixe? A senhora deixa que eu abra a barriga dele? - Omon Oxum bastante chorosa respondeu:- Minha filha a barriga dele está muito dura. Eu não posso abrir quanto mais você.

A menina se levantou, chegou na cosinha, apanhou um cacumbú e puxou rasgando a barriga do peixe, ésta se abriu em bandas deixando aparecer a corôa de Oxalá ainda mais bonita do que era antes. Omon Oxum se abraçou com a menina e de tanto contentamento não sabia o que fazer com ela. Carregava, beijava, dansava, e por fim Omon Oxum olhando para a menina e em seguida voltando as vistas para o céu, disse: - Olorun, Deus que lhe abençoe. Sua maesinha está sendo perseguida, porém com a fé que tem no seu Eledá, anjo da guarda, não ha de ser vencida. Limparam muito bem limpa, a corôa, e guardaram, muito bem guardada, juntamente com o resto das coisas pertencentes a Oxalá.

Em seguida Omon Oxum cosinhou o peixe, fez um grande almôço e convidou a todos da casa para almoçar com ela dizendo que estava festejando o dia da festa do Pai Oxalá. Ao meio dia Omon Oxum juntamente com seu, quero dizer, sua filhinha serviram o almôço acompanhado de Aluá ou Aruá, a bebida predileta de Oxalá a qual os Erê dão o nome de mijo do pai. Depois do almôço todos foram descansar para na hora determinada dar começo a festa das Águas de Oxalá. As invejosas quando viram todo aquele movimento, Omon Oxum muito alegre como se nada tivesse acontecido a ponto de dar até um banquete em homenagem a Festa de Oxalá, ficaram malucas.

Uma delas perguntou:- Será que ela encontrou a corôa? - Outra respondeu:- Eu bem disse que queimasse. - E a outra mais danada ainda dizia:- Eu disse a vicês que o melhor era cavar um buraco bem fundo e enterrar. - A primeira procurando acalmar os animos, disse para a outra:- Vamos esperar até a hora que éla apresentar as roupas de Oxalá com todos os armamentos. Se a corôa estiver no meio o geito que temos é fazer um grande ebó e colocar na cadeira onde éla vai se sentar ao lado de Oxalá. - O ebó, sacrificio, póde ser empregado para o bem ou para o mal.

Quando estava perto da hora de começar a festa, Omon Oxum apresentou a Oxalá tôda a roupa com todos os armamentos deixando as invejosas mais danadas e com mais desejo de vingança, a ponto de procurarem fazer o ebó por elas idealisado e colocar na cadeira onde Omon Oxum era obrigada a sentar-se por ordem de Oxalá. Começou a festa com a maior alegria possivel. Oxalá chegou acompanhado por Omon Oxum e se sentou no trono. Omon Oxum sem saber do que estava sendo feito contra ela, também se sentou na sua cadeira ao lado de Oxalá. Quando começaram as cerimônias e que Oxalá precisou de colocar a sua corôa, virou-se para Omon Oxum e pediu para éla ir apanhar a corôa. Omon Oxum quiz levantar e não pôde. Fez força para um lado, para o outro, e nada de poder levantar-se, até quando éla decidiu levantar-se de qualquer maneira. Devido a grande dor que sentiu, olhou para a cadeira e viu que estava tôda suja de sangue.

Alucinada de dor, e horrorisada por saber que Oxalá de fórma nenhuma podia ter nada de vermelho perto dêle porque era ewó, proibição, saiu esbaforida pela porta afora, indo se esbarrar na casa de Exú. Quando Exú abriu a porta que viu Omon Oxum tôda suja de vermelho, disse:- Você vindo dêsse geito da casa de meu pai? Infringiu o regulamento e eu não posso lhe abrigar,- e fechou a porta. Daí ela foi para a casa de Ogun, Oxossi, de todos Orixás e sempre diziam a mesma coisa que disse Exú. Só restava a casa de Oxum. Quando Omon Oxum chegou a casa de Oxum, esta já tinha sabido do que estava acontecendo e estava a sua espera. Omon Oxum se jogando nos pés dela disse:- Minha mãe me valha, estou perdida.

Oxalá não vai me querer mais em sua casa. Oxum disse para ela que não se preocupasse, que um dia Oxalá ía buscar ela de volta. Depois Oxum, usando de sua magia, fez com que, do lugar onde sangrava em Omon Oxum saisse Ekodide, pena vermelha de papagaio da costa, até quando sare a ferida. Oxum, depois de colocar todo aquêle Ekodidé numa grande igbá, cuia, reuniu todo seu pessoal e tôdas as noites faziam um xirê, festa, cantando assim:

BI O TA LADÊ
BI O TA LADÊ IRÚ MALÉ
IYA OMIN TA LADÊ OTO RU ÉFAN KOBÁJA
OBIRIN IYA OMIN TA LADÊ

E assim Oxum ricamente vestida, sentada no seu trono, com Omon Oxum ao seu lado, a cuia de Ekodidés e a vasilha para colocarem dinheiro em frente a elas, recebia as visitas de todos os Orixás que iam até lá para ver e saber porque Oxum estava fazendo aquela festa tôdas as noites. Todos que lá chegavam e se enteiravam do acontecimento, si era homem dava dodóbálé, se estirava de peito no chão para Oxum, depois apanhava um Ekodidé e colocava uma certa quantia na vasilha que estava ao lado para ser colocado o dinheiro, e se era mulher dava iká, quer dizer, se deitava no chão de um lado e do outro para Oxum e em seguida apanhava um Ekodidé e colocava também o dinheiro na referida vasilha.

Tudo aquilo que estava acontecendo no palácio de Oxum, ficou sendo muito propalado e as invejosas faziam todo possivel para que Oxalá não soubesse. Um dia, elas, sem observarem que Oxalá estava por perto, começaram a comentar o caso, onde uma delas disse:- Com ela não tem quem possa, depois de tudo o que nós fizemos, depois de ter acontecido o que aconteceu aqui no palácio de Oxalá e de ter sido enjeitada por todos Orixás, vocês não estão vendo que Oxum abrigou ela? Curou, conseguindo que do lugar que sangrava saisse Ekodidé, fazendo uma grande fortuna e aumentando a sua riqueza.

Agora só nos resta é fazer com que o velho não saiba do que está acontecendo no palácio de Oxum, se não é bem capaz de querer ir até lá. Nisso o velho Oxalá pigarreou dando a entender que tinha ouvido tôda a conversação. Ordenou a elas que procurassem saber a hora que começava o xirê no palácio de Oxum e que elas iam servir de companhia para êle poder ir apreciar o xirê e tomar conhecimento do que estava acontecendo. Quando elas ouviram Oxalá falar desta maneira bem pertinho delas a terra lhe faltaram nos pés e o remorso montou nos seus cangótes fazendo com que elas fugissem para nunca mais voltar ao palácio de Oxalá. A noite, depois do jantar, Oxalá cansado de esperar pelas tres invejosas e não vendo nenhuma delas aparecer, disse:- Fugiram com medo de que eu castigasse pela grande injustiça que cometeram, não sabendo de que o castigo será dado pelas mesmas. Assim Oxalá se dirigiu para o palácio de Oxum afim de assistir o xirê e saber qual a causa do mesmo.

Quando Oxalá chegou no palácio de Oxum mandou anunciar a sua chegada. Oxum mais bonita do que nunca, coberta de ouro e muitas jóias dos pés a cabeça, sentada no seu rico trono, mandou que Oxalá entrasse, e continuou o xirê cantando:

BI O TA LADÊ, BI O TA LADÊ, IRÚ MALÊ, IYA OMIN TA LADÊ.


Quando Oxalá entrou ficou abismado de ver tanta riquesa e quando reparou bem para Oxum, que viu a seu lado Omon Oxum, a pessoa que cuidava dele e de tôdas suas coisas, a quem ele julgava ter perdido devido o que tinha acontecido, não se conteve, se jogou também no chão dando dodóbálé para Oxum, apanhando um Ekodidé e colocando bastante dinheiro na vasilha. Oxum quando viu o velho dar dodóbálé para ela, se levantou cantando:


DÓDÓ FIN DODÓBÁLÉ KÓ BINRIN IYA OMIN TA LADÊ
e foi ajudar a Oxalá se levantar do chão. Depois que Oxalá se levantou Oxum pegou Omon Oxum pela mão e entregou à Oxalá dizendo:- Aqui está a vossa zeladora, sã e salva de todo mal que desejaram e fizeram para ela para que ela ficasse odiada por vós.

Oxalá agradecendo a Oxum disse:- Oxum, em agradecimento a tudo o que fizestes de bem e para amenisar os sofrimentos de Omon Oxum eu, Oxalá, prometo levar ela de volta para o meu palácio e de hoje em diante nunca hei de me separar desta pena vermelha que é o Ekodidé e que será o unico sinal desta côr que carregarei sôbre o meu corpo.

OLORUN, OLODUMARE, OLOFIN - OS NOMES DE DEUS.

Segundo a filosofia religiosa africana, O Criador encontra-se em plano tão superior em relação aos seres humanos e, é de tal forma inexplicável e incompreensível, que inútil seria manter-se um culto específico em sua honra e louvor, já que o Absoluto não pode ser alcançado pelo ser humano em decorrência de suas limitações e imperfeições.

Olorun é o nome mais comumente usado para designar a Divindade Suprema, e esta preferência de uso está ligada à sua aceitação por parte dos islamitas e dos cristãos, que adotaram-no como sinônimo, tanto de Alá, quanto de Jeová.

O termo é fácil de ser analisado e traduzido, uma vez que se compõe de duas palavras apenas: “Ol" de Oni (dono, senhor, chefe) e "Orun" (céu, mundo onde habitam os espíritos mais elevados), formando "Olorun" - Chefe, Proprietário ou Senhor do Céu.
O termo "Olodumare" propõe uma idéia mais completa e de maior significado filosófico. Desmembrando a palavra, encontramos os seguintes componentes: "Ol”, “Odú" e "Mare", que passamos a analisar separadamente. O prefixo "Ol" resulta da substituição, pelo "l" das letras "n" e "i" da palavra "Oni" (dono, senhor, chefe), prefixo utilizado, modificado, ou em sua forma original, para designar o domínio de alguém sobre alguma coisa (propriedade, profissão, força, aptidão, etc.). Ex.: "Olokun" - Senhor dos Oceanos.

O termo intermediário "Odu", possui diversos significados, dependendo das diferentes entonações na sua pronúncia, que no caso é "ôdu" e que reunido ao prefixo "ol", resulta em "Olodu", cujo significado é: "Aquele que possui o cetro ou a autoridade", ou ainda: "Aquele que é portador de excelentes atributos, que é superior em pureza, grandeza, tamanho e qualidade".


A última palavra componente "mare" é, por sua vez, o resultado do acoplamento de dois termos "ma" e "re", imperativo que significa: "não prossiga", "não vá". A advertência contida no termo, faz referência à incapacidade do ser humano, inerente à sua própria limitação, de decifrar o supremo e sagrado mistério que envolve a existência da Divindade. Olofin é também uma das designações da Divindade suprema. Quando em extrema aflição, os nagôs costumam solicitar o auxílio divino, invocando os três nomes: Olorun! Olofin! Olodumare!

ODUDUWA

Oduduwa é um Orixá sobre o qual existe muita discordância dos adeptos do culto. Se Oxalá representa o princípio masculino-ativo da criação, Oduduwa é a representação do princípio feminino-passivo, do qual surge a vida após o processo de "fecundação".

Oduduwa é um Orixá Funfun absolutamente diferente dos demais, embora semelhante em essência, é feminina, sendo cultuada em diversas regiões como esposa de Oxalá, embora seja, em princípio, sua irmã.

Uma grande controvérsia foi criada em torno deste Orixá colocando em dúvida não somente o seu gênero, como também seu status no complexo teogônico desta religião.
Oduduwa um Orixá-Funfun feminino ou um ancestral masculino divinizado por seus feitos notáveis?

Segundo determinadas correntes mais atreladas às explicações científicas que às filosóficas, Oduduwa teria sido o fundador de Ifé, capital espiritual do povo Yoruba e fundador da dinastia que deu origem à esta etnia.

Fonseca Júnior propõe para o nome de Oduduwa a seguinte análise etimológica: Odu-(ti-o): recipiente auto-gerador; Da: Criador(a); Iwa: Existência: Oduduwa; O Ser Criador da Existência Terrena.

É o mesmo autor que, em referência a Oduduwa (personagem histórico), apresenta a seguinte teoria: "...presume-se que Oduduwa teria ido para a África a mando de Olodumare (Jeovah), para redimir os descendentes de Caim (Hetentotes) que, a semelhança de seu ancestral, carregavam o sinal da Besta na testa. (Gen.4,cap.15/16)". Mais adiante, Fonseca Jr. explica:
2 - Após o pacto semelhante ao que foi feito entre Deus e Abraão, Ninrod troca de nome passando a chamar-se Oduduwa;
3 - Oduduwa (Ninrod), filho de Olodumare (Jeovah), parte para a terra prometida. (Vide Gênesis, 12-1/2/3; Gen.17-4/5/6;
4 - Ninrod era descendente de Noé, neto de Cam (Camita) e filho de Cusi (kusi). (Gen.10-8/9);
5 - Abrahão (ex-Abrão), descendente de Sem (Semita) e Oduduwa (ex-Ninrod), descendente de Cam (Camita), eram parentes.

A explicação de Fonseca Júnior parece aumentar ainda mais a confusão que teria sido gerada, segundo nos parece, num simples caso de homonímia verificado quando o personagem histórico (masculino), fundador de Ile Ifé, resolveu adotar, quiçá por determinação religiosa, o nome do Orixá (feminino) a quem é atribuída a "fundação" da Terra em que habitamos. A tradição cuidou de alimentar a confusão, existindo ainda hoje em Ile Ifé, um marco monolítico adornado de misteriosos sinais, denominado "Opá Oraniyan" que acredita-se, demarque o local exato da fundação da Terra. O mesmo monumento serve de túmulo a Oraniyan, rei dos yorubanos, bisneto de Oduduwa e pai de Xangô e de Ajaká.

Pierre Verger toma posição diante da questão, afirmando ser Oduduwa ..."um personagem histórico, guerreiro terrível, invasor e vencedor dos Igbo, fundador da cidade de Ile Ifé e pai de reis de diversas nações yorubas" .Segundo Verger, foi o Padre Baudin que primeiro classificou, em seu livro sobre religiões de Porto Novo, Oduduwa como Orixá, sendo posteriormente seguido nesta teoria por ..."compiladores encabeçados pelo tenente-coronel A.E. Ellis... A obra de Ellis foi o ponto de partida de uma série de livros escritos por autores que se copiaram uns aos outros..." Verger confessa comungar da opinião do Reverendo Bolaji Idowu quando este afirma que "Oduduwa tornou-se objeto de culto após sua morte, estabelecido no âmbito do culto dos ancestrais (e não das divindades)".

Para reforçar ainda mais sua tese, o cientista continua: "A respeito de Oduduwa, acumulou-se com o tempo, uma vasta documentação escrita, tida como erudita porque é constituída de textos, a única valiosa aos olhos dos letrados, mesmo que estes textos estejam inspirados por escritos anteriores, inexatos e contrários à verdade".

O que o grande mestre francês esqueceu-se de citar seria talvez, a primeira pista esclarecedora, quando o próprio Idowu, na mesma obra, relata que "Até mesmo em Ile Ifé onde predominam os cultos às divindades masculinas, existe na liturgia, fortes indícios de tratar-se de uma Deusa, uma Divindade Feminina. Em alguns pontos
esclarecedores desta liturgia, pode-se encontrar o termo "Iya Male" (Mãe das Divindades ou Mãe Divina)...

..."Em Adó, Oduduwa é irrefutavelmente uma Deusa... e parte da liturgia começa desta forma:
Iya dakun gba wa o; - Oh Mãe! nós suplicamos que nos libertes;
ki o to ni to mo; - olhai por nós, olhai por nossos filhos;
ogbebi l'Adó ! - Tu és aquela que te estabelecestes em Adó!"
O pequeno detalhe omitido é suficiente para concluirmos que existe na verdade, um culto a um Orixá denominado Oduduwa e que este Orixá é feminino, o que vem a coincidir com nossa opinião.

terça-feira, 9 de junho de 2009

600 Orixas primarios...

Na Mitologia Yoruba, Olorun é o Deus supremo do povo Yoruba, que criou as divindades chamadas (português Orixá; alemão Orisha; espanhol Oricha; Yoruba Òrìsà) para representar todos os seus domínios aqui na terra, mas não são considerados deuses. São cultuados no Brasil, Cuba, República Dominicana, Porto Rico, Jamaica, Guiana, Trinidad e Tobago, Estados Unidos, México e Venezuela.

Na mitologia há menção de 600 Orixás primários, divididos em duas classes, os 400 dos Irun Imole e os 200 Igbá Imole, sendo os primeiros do Orun ("céu") e os segundos da Aiye ("Terra").

Estão divididos em Orixás da classe dos Irun Imole, e dos Ebora da classe dos Igbá Imole, e destes surgem os Orixá Funfun (brancos, que vestem branco, exemplo:Oxalá, Orunmilá), e os Orixá Dudu (pretos, que vestem outras cores, exemplo:Obaluayê, Xangô).

* Exu, Orixá guardião dos templos, encruzilhadas, passagens, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.
* Ogum, Orixá do ferro, guerra, fogo, e te
cnologia.
* Oxóssi, Orixá da caça e da fartura.
* Logunedé, Orixá jovem da caça e da pesca.
* Xangô, Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
* Ayrà, Usa branco, tem profundas ligações com Oxalá e com Xangô.
* Obaluaiyê, Orixá das doenças epidérmicas e pragas, Orixá da Cura.
* Oxumaré, Orixá da chuva e do arco-íris, o Dono das Cobras.
* Ossaim, Orixá das Folhas sagradas, conhece o segredo de todas elas.
* Oyá ou Iansã, Orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestades, e do Rio Niger
* Oxum, Orixá feminino dos rios, do ouro, jogo de búzios, e protetora dos recém nascidos.
* Iemanjá, Orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade, mãe de muitos Orixás.
* Nanã, Orixá feminino dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiê.
* Yewá, Orixá feminino do Rio Yewa, considerada a deusa da beleza, da adivinhação e da fertilidade.
* Obá, Orixá feminino do Rio Oba, uma das esposas de Xangô, é a deusa do amor.
* Axabó, Orixá feminino da família de Xangô.
* Ibeji, divindade protetor dos gêmeos.
* Irôco, Orixá da árvore sagrada, (gameleira branca no Brasil).
* Egungun, Ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.
* Iyami-Ajé, é a sacralização da figura materna, a grande mãe feiticeira.
* Onilé, Orixá do culto de Egungun.
* Onilê, Orixá que carrega um saco nas costas e se apóia num cajado.
* Oxalá, Orixá do Branco, da Paz, da Fé.
* OrixaNlá ou Obatalá, o mais respeitado, o pai de quase todos orixás, criador do mundo e dos corpos humanos.
* Ifá ou Orunmila-Ifa, Ifá é o porta-voz de Orunmila, Orixá da Adivinhação e do destino, ligado ao Merindilogun.
* Odudua, Orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.
* Oranian, Orixá filho mais novo de Odudua.
* Baiani, Orixá também chamado Dadá Ajaká.
* Olokun, Orixá divindade do mar.
* Olossá, Orixá dos lagos e lagoas.
* Oxalufon, Qualidade de Oxalá velho e sábio.
* Oxaguian, Qualidade de Oxalá jovem e guerreiro.
* Orixá Oko, Orixá da agricultura.
África

Na África cada Orixá estava ligado a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais.

Sàngó em Oyo, Yemoja na região de Egbá, Iyewa em Egbado, Ogún em Ekiti e Ondo, Òsun em Ilesa, Osogbo e Ijebu Ode, Erinlé em Ilobu, Lógunnède em Ilesa, Otin em Inisa, Osàálà-Obàtálá em Ifé, Osàlúfon em Ifon e Òságiyan em Ejigbo.

A realização das cerimônias de adoração ao Òrìsá é assegurada pelos sacerdotes designados para tal em sua tribo ou cidade.Brasil

No Brasil, existe uma divisão nos cultos: Ifá, Egungun, Orixá, Vodun e Nkisi, são separados pelo tipo de iniciação sacerdotal.

* O Culto de Ifá só inicia Babalawos, não entram em transe.
* O Culto aos Egungun só inicia Babaojés, não entram em transe.
* O Candomblé Ketu inicia Iaôs, entram em transe com Orixá.
* O Candomblé Jeje inicia Vodunsis, entram em transe com Vodun.
* O Candomblé Bantu inicia Muzenzas, entram em transe com Nkisi.

Em cada templo religioso são cultuados todos os Orixás, diferenciando que nas casas grandes tem um quarto separado para cada Orixá, nas casas menores são cultuados em um único (quarto de santo) termo usado para designar o quarto onde são cultuados os Orixás.

Alguns Orixás são só assentados no templo para serem cultuados pela comunidade, exemplo: Odudua, Oranian, Olokun, Olossa, Baiani, Iyami-Ajé que não são iniciados Iaôs para esses Orixás.

A Iyalorixá ou o Babalorixá são responsáveis pela iniciação dos Iaôs e pelo culto de todo e qualquer Orixá assentado no templo, auxiliada pelas pessoas designadas para cada função. Exemplo o Babaojé que cuida da parte dos Eguns e Babalosaim que é o encarregado das folhas.

Apesar de serem de origem daomeana, Nanã, Obaluaiyê, Iroko, Oxumarê e Yewá, são cultuados nas casas de nação Ketu, mas são muito raros os Iaôs que são iniciados, houve casos de passar vinte ou trinta anos sem se iniciar ninguém para esses Orixás que são cultuados em locais separados dos outros.

Existem Orixás que já viveram na terra, como Xangô, Oyá, Ogun, Oxossi, viveram e morreram, os que fizeram parte da criação do mundo esses só vieram para criar o mundo e retiraram-se para o Orun, o caso de Obatalá, e outros chamados Orixá funfun (branco).

Existem Orixás que são cultuados pela comunidade em árvores como é o caso de Iroko, Apaoká, os orixás individuais de cada pessoa que é uma parte do Orixá em si e são a ligação da pessoa, iniciada com o Orixá divinizado.

Ou seja uma pessoa que é de Xangô, seu orixá individual é uma parte daquele Xangô divinizado com todas as características, ou como chamam arquétipo.

Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o Orixá pessoal é uma manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado, outros dizem ser uma incorporação mas é rejeitada por muitos membros do candomblé, justificam que nem o culto aos Egungun é de incorporação e sim de materialização. Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do candomblé.

Axé: a força vital do Candomblé e o mundo dinâmico da Física moderna .

Se o pensamento científico pretende descrever e explicar a realidade, é forçado a usar seu método geral, que é o da classificação e da sistematização. A vida é dividida em províncias separadas que são claramente distinguidas umas das outras. Os limites entre os reinos das plantas, dos animais, do homem - as diferenças entre espécies, famílias, gêneros - são fundamentais e indeléveis. Mas a mente primitiva as ignora e as rejeita.

Sua visão da vida é sintética, e não analítica. A vida não é dividida em classes e subclasses. É sentida como um todo contínuo e ininterrupto que não admite distinções nítidas e claras.(...) Se existe algum aspecto característico e destacado do mundo místico, qualquer lei que o governe, é a lei da metamorfose. Mesmo assim, dificilmente poderíamos explicar a instabilidade do mundo mítico pela incapacidade do homem primitivo para apreender as diferenças empíricas das coisas.

Quanto a isso, o selvagem muitas vezes prova a sua superioridade em relação ao mundo civilizado. É suscetível a muitos aspectos distintivos que escapam à nossa atenção.
O atual avanço das Ciências e da Filosofia tem ocasionado uma nova visão do mundo, aproximando ou religando o homem à natureza. Ao contrário do que se propunha anteriormente, não se fala hoje em homem dominando a natureza através do desenvolvimento científico, mas interagindo com ela.

Nas palavras de Ilya Prigogine e Isabelle Stengers "A ciência é um jogo arriscado, mas parece ter descoberto questões às quais a natureza responde de maneira coerente, uma linguagem teórica pela qual inúmeros processos se deixam decifrar. Esse sucesso da ciência moderna constitui um fato histórico; não predizível a priori, mas incontornável desde que ocorreu, a partir do momento em que, no seio duma dada cultura, esse tipo particular de questão passou a desempenhar o papel de chave de decifração. Logo que tal ponto foi atingido, deu-se uma transformação sem retorno das nossas relações com a natureza que produziu o sucesso da ciência moderna. Nesse sentido pode-se falar de revolução científica".


Outra relação que mudou com essa "revolução científica" foi a da ciência com a religião. Com a crise dos antigos paradigmas científicos, boa parte dos pesquisadores tem se dedicado a fazer releituras de religiões e do próprio sentimento religioso ou religiosidade. O que se deu então foi uma interpretação tida como esotérica ou pseudo-científica por parte dos positivistas ou iluministas. Seja na Filosofia, na Biologia, na Física, na Psicologia, nas Ciências Sociais - as principais afluentes -, o que se buscou foi romper com o paradigma cartesiano-newtoniano extremamente determinista.


Este artigo tem como inspiração um dos livros mais conhecidos e discutidos dessa nova safra de obras científicas, O Tao da Física, de Fritjof Capra. Nele, Capra faz um paralelo entre o mundo visto pela ótica do misticismo oriental e a Física moderna. Para ele, o avanço da Física Quântica e da Física Relativística levou a uma aproximação entre o pensamento científico e o pensamento místico-religioso.
A exemplo de Capra, faremos um paralelo, este sendo entre a visão do mundo da Física moderna e a dos adeptos do Candomblé. Pretendemos mostrar que o Candomblé, como culto aos Orixás, as "personificações das forças da natureza", que tem no termo Axé a designação da força vital presente em todos os seres, acha-se em consenso com os novos paradigmas científicos.

Um aspecto fundamental da visão moderna da Física é o caráter dinâmico que toma o universo, não mais dividido em partes sólidas isoladas, mas sim tido como uma teia de interconexões. "No nível subatômico, os objetos materiais sólidos da Física clássica dissolvem-se em padrões de probabilidade semelhantes a ondas; esses padrões, em última instância, não representam probabilidades de coisa, mas, sim, probabilidades de interconexões.[...] A teoria quântica revela, assim, uma unidade básica no universo".

Os físicos quânticos em seus estudos subatômicos chegaram à conclusão de que não podemos falar de unidades fundamentais do cosmos. As partículas subatômicas, segundo a Física Quântica, são também ondas de energia. Não é possível se afirmar exatamente onde está uma partícula subatômica, trabalha-se nesse nível com probabilidades de localização, quanto mais reduzido o espaço para verificação, mais rapidamente ela se movimentará para os lados. O que no mundo macroscópico vemos como estático, ou "inerte", usando um termo da física newtoniana, é, no nível subatômico, uma incessante interação entre partículas, ou melhor, interação energética entre partículas.

As partículas, portanto, só podem ser pensadas como participantes desse processo e não isoladamente como unidades independentes.
Dessa forma o "mundo quântico" descrito por Capra assemelha-se com o "mundo sagrado" na concepção de Mircea Eliade. "Se ampliarmos um pedaço 'morto' de pedra ou de metal, veremos que este se encontra cheio de atividade. Quanto mais próxima é nossa observação, mais viva se apresenta a matéria". "O Cosmos é ao mesmo tempo um organismo real, vivo e sagrado: revela as modalidades do Ser e da sacralidade".

A visão atual da ciência do "mundo dinâmico" deve muito também à descoberta por parte dos físicos relativísticos da equivalência entre os conceitos de massa e energia. A famosíssima equação E=mc2 expressa a igualdade da energia contida numa partícula em relação à massa da partícula multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz. Tal fórmula pôde ser comprovada nos estudos com colisão de partículas subatômicas, quando a energia contida na massa das partículas pode ser transformada em energia cinética e esta, por sua vez, pôde ser transformada em massa de novas partículas. "A teoria da relatividade demonstrou que a massa nada tem a ver com substância, sendo, isso sim, uma forma de energia. A energia, entretanto, é uma quantidade dinâmica associada com a atividade, ou com processos".

As partículas passaram a ser tratadas a partir de então como "pacotes de energia" denominados quanta e, mais tarde, fótons.
Essa teoria da Física moderna, da energia como princípio vital do universo, já era uma idéia presente não só na filosofia oriental, como mostra Capra, mas também nas demais tradições religiosas. Notamos então que o conceito de Tao para os taoístas, Brahman para os hindus, de Dharmakaya ou Tathata para os budistas assemelha-se com o conceito de Axé no Candomblé. Assim podemos muito bem juntar à descrição de um místico oriental, "As coisas recebem seu ser e sua natureza por dependência mútua e, em si mesmas, elas nada são"; a de um físico moderno, "O mundo afigura-se assim como um complicado tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem, ou se combinam, determinando, assim, a textura do todo"; e as de estudiosos do Candomblé, "Esta fuerza no es inmóvil. Por el contrario, sólo es si es transmitida: 'axé necesita axé' es el principio del sistema que ordena la circularidad de la potencia mística por todos los seres, vegetales, agua, miel, sangre, hombres, dioses. La propria universalidad del axé, además, rechaza toda personalización. Esta fuerza escapa a cualquier individualidad. Es del dominio de lo contínuo, una fuerza indiferenciada que unifica y homogeneiza al mundo", "a força não é um atributo do ser, mas o próprio ser, encarado numa perspectiva dinâmica (e não estática, tal como se dá na ontologia judaico-cristã) : o mundo não é; o mundo se faz, acontece". Seja na Física moderna, no misticismo oriental ou no Candomblé, o universo tem como unidade básica fundadora "energia".

Energia em contínua interação e interligação como processo mesmo de realização.
O filho-de-santo a partir da sua iniciação no Candomblé tem contato com esta energia, quando ele entra no mundo do Axé.

É na iniciação que se dá o primeiro passo na doutrinação iorubá, a "feitura no santo". Nesse momento o filho-de-santo conhece os seres que criaram e que comandam o mundo encantado e o mundo material, aqueles que vão cuidar dos seus filhos e que por eles também serão servidos e cultuados para manutenção do Axé.

Ele descobre qual o seu santo, pela primeira vez ele é "cavalo" do Orixá, isto é, ele tem a sua primeira e fundamental experiência no Candomblé, ele é possuído pelo seu Orixá.
Axé não pode, no entanto, ser pensado como algo doado pelos Orixás ao filho-de-santo ou vice-versa. Os Orixás são considerados ancestrais detentores de Axé que se valeram dessa força geradora para criar o mundo.

Na organização contemporânea eles necessitam, no entanto, do fortalecimento e da manutenção da energia. O Axé depende diretamente da relação entre o que é oferecido pelo filho (alimentos, animais sacrificados, obrigações, etc.) e como esse tem os seus objetivos satisfeitos mediante proteção, aconselhamento, cura ou qualquer tipo de intervenção do Orixá que demonstre poder.


O equilíbrio energético que se mantém com a dinâmica interação entre dois pólos, assim como é visualizado com o símbolo chinês do yin e yang, no Candomblé se efetiva na relação filho de santo e Orixá. A possessão é de fundamental importância nessa interação energética. Aos olhos do povo de santo é nesse processo que se encontram os dois pólos interagindo no mundo material. Se, por um lado, o Orixá como personificação das forças agentes no mundo tem o seu Axé, ele é abstrato, não pode ser visualizado e, portanto, cultuado; ele não concretiza-se sem o seu filho. Torna-se imprescindível uma complementaridade material, o elegun ou "cavalo do santo". O filho tem para si o seu santo particular, que só "nasce" quando incorporado.

Não se ouve de um filho de santo que ele foi possuído por "Xangô" ou "Iemanjá", mas por "seu Xangô" ou por "sua Iemanjá", aquele que só veio ao mundo porque o tem como elegun. É o que afirma Rira Laura Segato, no livro Santos e Daimones, "Assim, o Orixá que manifesta na possessão interagindo com os seres humanos não é entendido como o Orixá abstrato, mas como uma de suas infinitas instâncias, que somente existe na e através da pessoa concreta de um filho".
Se no Candomblé a interação do concreto (filho-de-santo) e do abstrato (Orixá) dá o equilíbrio dinâmico do Axé, os físicos têm unificado conceitos aparentemente independentes ou até mesmo contraditórios. P

artícula e onda, espaço e tempo, existência e não-existência e vazio e forma são termos não mais vistos na qualidade de antíteses. Na nova realidade quântica-relativística eles são unidos não só nos conceitos de quantum ou fóton, mas também em termos como espaço-tempo quadridimensional e campo quantizado.
Como visto acima, o quantum ou fóton apresenta-se sob a forma de onda ou de partícula. A Eletrodinâmica quântica entende que, por se tratar de uma onda, o fóton é um campo vibratório, logo, o fóton como uma onda eletromagnética é um campo eletromagnético; temos assim o campo quantizado.

Com a teoria do campo quantizado, os físicos chegaram à conclusão de que não há vazio ou matéria no universo. "O campo quantizado é concebido como entidade física fundamental, um meio contínuo que está presente em todos os pontos do espaço". A concentração de energia em determinados espaços do campo é verdadeiramente o que entendemos por partícula. Segundo Einstein, "podemos então considerar a matéria como constituída por regiões do espaço nas quais o campo é extremamente intenso.[...] Não há lugar nesse novo tipo de Física para campo e matéria, pois o campo é a única realidade". A Eletrodinâmica quântica forneceu dessa forma uma prova a mais da correlação entre matéria e energia na definição do espaço em que vivemos.


Para entendermos o conceito de mundo quadridimensional nos guiemos uma vez mais pelas palavras de Capra: "o mundo quadridimensional da Física relativística é o mundo onde a força e a matéria acham-se unificadas, onde a matéria pode aparecer como partículas descontínuas ou como um campo contínuo".

Albert Einstein provou que, sabendo-se que os eventos não ocorrem no mesmo instante em que são observados, tanto a posição em que se encontra o observador em relação ao evento como (supondo um possível deslocamento à velocidade da luz) a velocidade do observador são determinantes na percepção do fato. Imaginando dois observadores, um parado em relação ao evento e outro se movendo a uma velocidade próxima à da luz, o evento ocorrerá diferentemente para um e para outro. "Não é possível, portanto, falar-se acerca do 'universo num dado instante' de maneira absoluta; o espaço absoluto independente do observador não existe". Com isso, não só o tempo, mas também o espaço torna-se relativo. "A teoria da relatividade mostrou que o espaço não é tridimensional e que o tempo não é uma entidade isolada.

Ambos se acham íntima e inseparavelmente conectados e formam um continuum quadridimensional denominado 'espaço-tempo' ".
N'O Tao da Física, Capra se utiliza de diagramas de espaço-tempo onde são retratadas a criação e a destruição de partículas para exemplificar e facilitar o entendimento da teoria relativística.

A colisão entre elétrons e fótons no espaço é visualizado com o eixo do tempo de baixo para cima e o espaço da esquerda para a direita. Como para cada partícula existe uma antipartícula, o evento que se refere à partícula entende-se que ocorra do passado para o futuro, ou seja, é lido de baixo para cima, nosso tempo convencional.

Já com relação à antipartícula lê-se de cima para baixo, ocorreria deste modo do futuro para o passado. "Uma vez que todas as partículas podem se deslocar para a frente e para trás no tempo - assim como elas podem se deslocar para a esquerda e para a direita no espaço -, não faz sentido impor um fluxo unilateral de tempo nos diagramas. Estes são apenas mapas quadridimensionais traçados no espaço-tempo, de tal sorte que não podemos falar de qualquer seqüência temporal".

Os físicos conseguiram assim transcender os conceitos de tempo e espaço, esses não são mais verdades supremas, eles superaram, a exemplo dos místicos, o tempo ordinário, como diz Eliade, "tal como o espaço, o tempo não é, para o homem religioso, nem homogêneo nem contínuo[...] o tempo sagrado é por sua própria natureza reversível".


Uma outra característica notável é a importância que adquire o observador nessa nova teoria física. Ele não é mais tratado como algo à parte no evento, mas, ao contrário, como uma peça chave para a determinação deste. O observador-participante na ótica da física relativística tem uma característica que o assemelha ao filho de santo: a "iniciação". É necessário uma iniciação nas doutrinas da física para que se possa reconhecer tal fenômeno. "Os físicos podem 'vivenciar' o mundo quadridimensional do espaço-tempo através do formalismo matemático abstrato de suas teorias; sua imaginação visual - como a de todos nós -, contudo, acha-se limitada pelo mundo tridimensional dos sentidos". De tal forma que, assim como apenas o iniciado no Candomblé sente a irradiação do seu Orixá, só alguém com conhecimento da simbologia físico-matemática pode experimentar a quadridimensionalidade. A revolução no pensamento científico e filosófico ocidental se fez notar com a crise dos antigos modelos. A base de todos os estudos naturais e sociais havia sido implodida, o objetivismo e suas certezas foram postos em cheque.

O distanciamento dessa nova ciência da ética judaico-cristã é facilmente perceptível nas palavras de Prigogine e Stengers sobre o modelo cartesiano-newtoniano: "O homem da ciência, já representado como um asceta, transforma-se numa espécie de mago, detentor potencial de uma chave universal e, portanto, de um saber todo-poderoso. Voltamos aqui a um tema já abordado: é somente num mundo simples, e singularmente no mundo da ciência clássica, onde a complexidade é apenas aparente, que um saber, qualquer que seja ele, pode constituir uma chave universal".


Com isso advém uma maneira de pensar holística. O fruto dessa revolução veio na forma de uma nova hipótese: a bootstrap. Veremos agora como o Candomblé está bem mais próximo dessa filosofia do que do modelo cartesiano e das suas influências na Ciência Ocidental.
Segundo a explicação de Capra, "a hipótese bootstrap não apenas nega a existência de componentes fundamentais da matéria como rejeita quaisquer entidades fundamentais -leis, equações ou princípios fundamentais -, abandonando, dessa forma, outra idéia que, durante centenas de anos, constituiu uma parte essencial da ciência natural.(...)

Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia é fundamental; todas decorrem das propriedades das outras partes, e a consistência global de suas inter-relações mútuas determina a estrutura de toda a teia". As palavras de Fernando Giobellina Brumana deixam bem explícita a semelhança com o Candomblé: "los santos sólo pueden brindar fuerza mística si ellos, a su vez, la reciben mediante las ofrendas. El axé no es producto ni efecto de las entidades místicas; es una instancia autónoma sobre cuya creación u origen el culto no necesita manifestarse. Es la propria fuerza de la Natureza, que no le viene de lugar alguno, sino de sí misma, y si el hombre la posée, es en su condición de ser natural".
Ou como afirma Muniz Sodré, "nessa ontologia, todo e qualquer ser - animal, vegetal, mineral, humano - é dotado de uma certa força.(...) Diferentemente da metafísica ocidental de inspiração judaico-cristã, que entende o ser como estático, como 'aquilo que é', o pensamento banto equipara ser a força".

Tem-se assim a força espalhada por todo o cosmos, em todos os seres, em tudo há "vida", há força, não como doação ou benção de um ente supremo, mas como uma força em "si mesma", cultivada na interação homem - natureza, ou mais especificamente, força do homem - força da natureza. Na filosofia bootstrap e no Candomblé não há espaço para o fundamentalismo, o universo é o resultado de um diálogo entre partes "autoconsistentes". O Axé está nas partes, ou seja, no filho de santo e no Orixá, mas somente quando estão relacionando-se, interagindo.


Concluindo pode-se ver que, seja no discurso dos "novos paradigmas", seja no discurso de uma "religião primitiva", a explicação cartesiana-newtoniana - ou judaico-cristã - do mundo não é suficiente. Uma nova forma de pensar (voltada para o reencontro do homem com a natureza) busca reparar os erros dos que viam na subordinação da natureza ao homem, o objetivo mesmo da racionalidade. Nesse momento, Orixás, Babalorixás, Ialorixás, filhos-de-santo, físicos, químicos e filósofos se unem para lembrar que o homem, além de racional, cultural é também biológico, natural.


Escrito por Loci Loci Logun

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O pilão de Oxalá


OXALÁ

O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás

Os Três Domingos de Oxalá

Primeiro Domingo:

As festas começam da mesma maneira que as demais já descritas, com uma diferença: todos os filhos do terreiro são obrigados a vestir roupa branca e não podem comer absolutamente nada que contenha sal, sangue ou dendê.

No intervalo da festa destinada à troca de roupa dos orixás, os presentes são servidos de adié (galinha cozida somente com cebola e ori - limo da costa), ebô (milho branco cozido com água sem sal), com o acompanhamento de aluá.

Depois dos orixás terem trocado de roupa, a Iyalorixá dá a ordem para os Alabê tirarem o cântico apropriado à entrada de Oxalá, canto que serve também para os demais orixás, que já estão vestidos e esperam no barracão:

Agô lonã morê ua ni xê

Agô agô lonã

Aí entram três filhas manifestadas com o grande Oxalá, vestidas de alvo, trazendo em uma das mãos o opaxorô, um cajado prateado com muitos enfeites. Na cabeça usam o adê (coroa), um prateado e os outros dois de pano todo bordado, com contas brancas. Dançam ao som dos atabaques, agogôs e xequerés (cabaça revestida de contas) algumas cantigas:

Ô fururu ló ô rê ô

ô kenen en lejibô

Ilê ifá motiuá babá

Okêrêrê lejibô ô

Eru ya eru ya ô

Euá ô euá e xê

Quando se canta essa cantiga, o orixá Oxalufã - Oxalá velho - dança, curvado pelo peso de sua velhice.

Quando os Oxalá já dançaram bastante, a Iyalorixá tira a seguinte cantiga:

Babá uô ri uô

Mele rin ô

Babá uô ri uô

Os orixás se retiram do barracão, com várias filhas a ampará-los e segurar-lhes as vestes. Logo em seguida a Iyalorixá também se retira, dando por encerrada a festa e convidando a todos para assistir à festa do domingo próximo.

Segundo Domingo:

Nesse dia Oxalá recebe, das mãos de todo terreiro, a oferenda de uma cabra, várias galinhas, patos e pombos brancos.

À tarde, depois de ser feito o Padê, o assento de Oxalá sai do Balué em cima de uma charola muito bonita, toda ornada por angélicas, carregada pela Iyalaxé, a Iyamorô e outras duas pessoas da seita. A charola é coberta com o alá, um pano grande, todo alvo, seguro por uma das mãos de cada um que ali se encontra acompanhando a procissão. Daí seguem em direção ao Cruzeiro, reverenciando a casa do Ibó. Em seguida, voltam para a Casa Grande, nome dado a uma casa branca muito comprida, onde alguns orixá, entre eles Iyá, orixá da nação Grunci, têm assentados os seus peji...

Chegando à casa, entram com o andor, recolhem o alá e depositam Oxalá no seu peji. Depois fazem o oriki(saudação) e os orixás começam a chegar, menos os Oxalá, que já vinham acompanhando a procissão.

Em seguida, levam os orixá para trocar de roupas. No intervalo, os visitantes são servidos das mesmas iguarias do primeiro domingo - adié, ebô e aluá.

Os orixá, já de roupas trocadas, chegam ao barracão e dançam as cantigas tiradas então pela Iyalorixá. Neste domingo, além de Oxalá, chegam outros, como Nanã, Iemanjá, Ogun. Dançam uma porção de cantigas, até mais ou menos 11 da noite, quando a Iyalorixá manda fazer a roda de costume. Uma das cantigas que ela tira agora é essa, que convida os orixá a entrarem no barracão e dançarem:

Durô dê uá loná

ê á um bó keuá jô

Durô dê uá loná

ê a un bó keuá jô.

Terceiro Domingo:

(Ojó Odô ou Dia do Pilão) - Às três da tarde, começam os preparativos para o início das obrigações. As filhas da casa, em grande atividade, fazem o necessário para que, em uma hora, tudo esteja preparado na sala da casa de Oxalá, a Casa Grande. Na procissão do Pilão, as filhas trazem bancos, mesas, panelas, balaios, tudo forrado por panos brancos e enfeitadas com ojás e com um feixe de atori (varinhas). Reúnem-se então todas as filhas, e, depois, a mãe Iyalorixá tocando seu ajá, faz as reverências precisas e com um dos atori toca os ombros das filhas de Oxalá, até que elas são manifestadas, iniciando-se assim os festejos. Cada uma das filhas da casa vai apanhando um daqueles apetrechos, de acordo com sua posição e seu eledá(guia). Quando todos estão prontos, vão saindo em procissão para o barracão e arriam todos os objetos em ordem, fazendo uma bonita arrumação, como num peji.

Todo esse preceito é acompanhado por cânticos adequados, até que por fim os Oxalá começam a obrigação dos atori. Primeiro Oxalá se senta e a Iyalorixá lhe entrega uma das varas. Em seguida, entrega varinhas também às filhas mais velhas da casa. Tiram uma cantiga e as pessoas, que estão munidas das varinhas, vão dançando em frente a Oxalá, que, batendo com a sua própria, faz como se estivesse surrando seus filhos. Logo após, todos vão tocando com as varinhas uns nos outros, e depois em todos os presentes, ao som da seguinte cantiga:

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê

Tanun apê ô

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê Terminada essa obrigação, tiram outra cantiga, que inicia a divisão das comidas:

Ô fururu lo êre ô

Ô keienen lejibó

Ilê ifan motiuá babá

Aji bô relê mojubá ô

Oluá êruáô éuáô êuáêxê

euá ô euá exê babá

euá ô euá exê

Além das comidas de costume, é servido inhame pisado em forma de bola, que vem dentro de um pilão. Depois com um novo cântico, são retirados todos aqueles apetrechos do barracão:

Xên xên un bé lôkô

Xên xên xên xên

Nilê ô xên xên?

Os orixás começam então a dançar, como de costume. Oxalá, mais belo que nunca em suas roupas maravilhosas, dança com aquele jeito calmo todo seu, sempre apoiado em seu opaxorô.

Por volta das onze horas, faz-se a roda para dar término à festa, fechando assim todo o ciclo das obrigações de Oxalá.


By Livro História de um Terreiro Nagô - Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI - Max Limonad-Joruês Cia Editora

domingo, 7 de junho de 2009

Oduns os signos de Ifá

A informação é do babalorixá Ângelo d´Osayin, presidente do Centro de Estudos Afro-Brasileiros. Ele explica que os Odus constituem os signos do Ifá, o deus da adivinhação no Candomblé. Os odus são a linguagem dos Orixás, conta Ângelo. Quando o babalaô, o sacerdote de Ifá, lança os búzios no tabuleiro, cada configuração corresponde à um odu diferente, regido por determinado Orixá ou grupo de Orixás.

Existem dezesseis odus básicos, que podem ser associados à data de nascimento da pessoa. E cada pessoa tem cinco odus; quatro referentes à sua vida material e um referente ao seu caminho espiritual. O jogo de búzios é a forma ritual, sagrada, de descobrir os odus de uma pessoa, mas também é possível conhecê-los recorrendo à numerologia.

De um modo ou de outro, esse conhecimento é muito importante, pois os odus sintetizam o potencial de cada indivíduo, seus talentos e suas limitações. Os odus encorajam e advertem, conta Ângelo. Eles indicam traços fortes e pontos vulneráveis. Conhecendo-os, podemos lidar melhor com eles e viver bem. Pois o odu, o caminho espiritual, não pode ser trocado, mas pode ser lapidado.

Veja a seguir, como calcular os signos dos Orixás correspondentes à sua vida material e ao seu percurso espiritual, para que você possa trilhar com segurança o caminho da prosperidade, a saúde, a realização sexual e afetiva e o equilíbrio interior.

Como calcular:

Para conhecer seus odus, tome como ponto de partida a data do seu nascimento. Trace num papel quatro linhas horizontais cortadas no centro por uma linha vertical. Essa linha vertical vai separar os algarismos em duas colunas: uma à esquerda e outra à direita. Escreva na primeira linha horizontal, usando as duas colunas, o número do dia em que você nasceu.

Se esse número for menor que 10, coloque um zero (0) na coluna da esquerda. Na segunda linha, escreva o número do mês (de 01 à 12). Se esse número for menor que 10, coloque um zero na coluna da esquerda. Na terceira linha, sempre usando ambas as colunas escreva os dois primeiros algarismos do ano em que você nasceu (19). Na quarta linha, usando as duas colunas, escreva os dois últimos algarismos do ano em que você nasceu. Some separadamente os algarismos de cada coluna. E sempre que o resultado ultrapassar 16, o número de odus básico, reduza-o somando os algarismos.

Veja o exemplo abaixo, de uma pessoa nascida em 25 de março de 1962:

1a linha 2 5 dia

2a linha 0 3 mês

3a linha 1 9 ano

4a linha 6 0 ano

Soma: 9 19

Como 19, o total da segunda coluna, é maior que 16, você deve somar 1+9. Portanto no exemplo, o resultado da coluna da esquerda é 9 e o resultado da coluna da direita é 10.

A seguir desenhe uma cruz e escreva nas pontas dos braços da cruz as palavras Testa, Fronte Direita, Nuca e Fronte Esquerda, conforme o modelo:



Escreva o número correspondente à soma da coluna da direita (10, no exemplo) no ponto referente à TESTA, e o número correspondente à soma da coluna da esquerda (9, no exemplo) no ponto referente à NUCA.

Para encontrar o número correspondente à FRONTE DIREITA, some os dois números já obtidos (9 e 10). O resultado obtido é 19, que reduzido, dá 10 (1+9=10).

Para encontrar o número correspondente à FRONTE ESQUERDA, some os três números já obtidos : 10+9+10 = 29. Como o resultado (29) é superior a 16, o número de odus básicos, reduza-o: 2+9=11.

Para encontrar o número correspondente ao CENTRO DA CABEÇA, some os quatro números já obtidos 10+9+10+11 = 40, que reduzido dá 4 (4+0 = 4).

Escreva o resultado no meio da cruz:



O babalorixá Ângelo d´Osayin esclarece que os odus mais importantes para a orientação da pessoa são os da Testa, que reflete sua vida material, e o do centro da Cabeça, que reflete seu caminho espiritual. Os outros três odus equilibram e harmonizam as energias individuais, complementando as informações dos odus da testa e do centro da cabeça.



Escrito por Loci Loci Logun



A mensagem dos orixás

1. OKANRAN MEJI

Regente: Exu

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU são inteligentes, versáteis e passionais, com enorme potencial para a magia. Seu temperamento explosivo faz com que raras vezes atuem com a razão. Têm sorte nos negócios. No amor, extremamente sedutoras, são muito inconstantes e mentem com facilidade. As mulheres têm como ponto vulnerável o útero.


2. EJIOKO MEJI

Regente: Ogum com influências dos Ibejis e de Obtalá

Elemento: Ar

Pessoas com esse ODU são intuitivas, joviais, sinceras e honestas. Revelam grande combatividade, mas não sabem conviver com derrota. Apesar de volúveis no amor, são muito ciumentas. Devem controlar obstinação e ter cuidado com a vesícula e com o fígado, seus pontos vulneráveis.


3. ETAOGUNDÁ MEJI

Regente: Obaluaê com influência de Ogum

Elemento: Terra

Pessoas com esse ODU em geral vêem seus esforços recompensados. Costumam vencer na política e conseguem obter grandes lucros nos negócios, particularmente nas atividades agrícolas, mas podem sofrer desilusões no amor e traições dos amigos. Emocionalmente inconstantes, estão propensas a ter problemas espirituais e físicos, embora na maioria dos casos consigam se recuperar com facilidade de qualquer doença. Seus pontos vulneráveis são os rins, as pernas e os braços.

4. IROSSUN MEJI

Regente: Oxossi com influência de Xangô, Iemanjá, Iansã e Egum

Elemento: TerraPessoas com esse ODU são generosas, sinceras, sensíveis, intuitivas e místicas. Têm grande habilidade manual e podem alcançar sucesso na área de vendas. Entre os aspectos negativos estão a tendência a sofrer traições amorosas e a propensão a acidentes. Muitas vezes são vítimas de calúnias e da perseguição dos seus inimigos. Também precisam cuidar da alimentação, pois seu ponto vulnerável é o estomago.

5. OXÊ MEJI

Regente: Oxum com influências de Iemanjá e Omulu

Elemento: Água

Pessoas com esse ODU têm mão de magia, força e proteção espirituais, religiosidade e uma inclinação especial para o misticismo e as ciências ocultas. São ótimos professores e se destacam em qualquer atividade que exija liderança, mas precisam aprender a controlar sua vaidade e seu egocentrismo. Outro aspecto negativo é a tendência a se vingar quando estão com raiva. Seus pontos vulneráveis são o aparelho digestivo e o sistema hormonal.

6. OBARÁ MEJI

Regente: Xangô com influências de Exu, Iansã, Oxossi. Oçanhe e Logunedê

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU têm grande proteção espiritual e costumam vencer pela força de vontade, especialmente em profissões relacionadas à Justiça. Mas são com freqüência vítimas de calúnias e não têm sorte no amor. Devem aprender a silenciar sobre seus projetos e a determinar por onde começá-los. Seu ponto vulnerável é o sistema linfático.

7. ODI MEJI

Regente: Obaluaê com influências de Exu, Oxalufam e Oxumarê

Elemento: Terra

Pessoas com esse ODU são ambiciosas e costumam ser bem sucedidas na sua profissão, mas a indecisão as leva a não concluir muitos dos seus projetos. Quando a fé as impulsiona, porém, ultrapassam todas as barreiras. Sonham com o poder e adoram se divertir, às vezes, provocam enormes confusões. Não têm sorte no amor. Seus pontos vulneráveis são os rins, a coluna e as pernas.

8. EJONILÊ MEJI

Regente: Oxaguiã com influências de Xangô, Oxum e Oxossi

Elemento: Ar

Pessoas com esse ODU são dedicadas e honestas e levam uma vida quase sem sofrimentos. Mas estão sujeitas a acidentes graves. Amam com intensidade e têm amizades sinceras. Quando são repudiadas ou sofrem uma traição, podem se tornar vingativas. Devem evitar o consumo de álcool e de carne vermelha e se vestir de branco nas sextas-feiras. Seu ponto vulnerável é o sistema nervoso central.

9. OSSÁ MEJI

Regente: Iemanjá com influências de Xangô, Oçanhe, Oxossi e Iansã

Elemento: Água

Pessoas com esse ODU são líderes natas, mas seu autoritarismo lhes cria sérios problemas, inclusive conjugais. O instinto protetor e a religiosidade também as caracterizam. Seus pontos vulneráveis são os conflitos psicológicos e, no caso das mulheres, os problemas ginecológicos.

10. OFUN MEJI

Regente: Oxalufam com influências de Xangô e Oxum

Elemento: Ar

Pessoas com esse ODU são inteligentes, fiéis e honestas, capazes de dedicar atenção total ao seu amor. Têm amigos sinceros e elevada espiritualidade. Em contrapartida, mostram-se muito teimosas e tendem a sofrer perseguições e desilusões amorosas. Seus pontos vulneráveis são o estomago e a pressão arterial.

11. OWRYN MEJI

Regente: Iansã com influências de Exu, Oçanhe e Egum

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU têm imaginação fértil, boa saúde e vida longa, mas as más influências e a falta de fé as levam a enfrentar dificuldades materiais e a só alcançar o sucesso depois de grandes sacrifícios. São muito volúveis no amor. As mulheres geralmente fracassam no primeiro casamento, mas acabam encontrando a felicidade. Devem evitar a bebida e outros vícios. Seus pontos vulneráveis são a garganta, o sistema reprodutor e o aparelho digestivo.

12. EJI-LAXEBARÁ

Regente: Xangô com influências de Logunedê e Iemanjá

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU têm o dom de convencer os outros. Dotadas de grandes qualidades espirituais, são bondosas, justas e prestativas, embora às vezes se mostrem arrogantes. Apaixonam-se com facilidade e são muito ciumentas. Devem evitar bebida e podem ter problemas judiciais ou relacionados à perda de bens. Seu ponto vulnerável é a circulação sanguínea.


13. EJIOLIGIBAN MEJI

Regente: Nanã com influência de Obaluaê

Elemento: Terra

Pessoas com esse ODU aceitam com resignação os sofrimentos físicos, emocionais e espirituais, conscientes de que todas as situações da vida são transitórias. Além disso, sua profunda fé termina por lhes assegurar vitória. Não têm muita sorte no amor. Dotadas de mão de cura, se destacam nos serviços médicos e de assistência psicológica e nas terapias alternativas. Seus pontos vulneráveis são o baço e o pâncreas.

14. IKÁ MEJI

Regente: Oxumarê com influências de Oçanhe e Nanã

Elemento: Água

Belas e sensuais, as pessoas com esse ODU têm aparência juvenil e forte poder de sedução. Vivem paixões arrebatadoras mas passageiras e estão sempre em busca de novos amores. Possuem talento para a magia e enorme força espiritual, que se manifesta através do olhar. Enriquecem com facilidade e se destacam na vida profissional e social, mas são desconfiadas e propensas a ter conflitos psíquicos. Seu ponto vulnerável são as articulações que podem lhes causar problemas de locomoção.

15. OGBEOGUNDÁ MEJI

Regente: Oba com influências de Eua

Elemento: Água

Pessoas com esse ODU são valorosas, combativas e imparciais, mas costumam sofrer desilusões amorosas, o que acentua sua agressividade e seu sentimento de rejeição. Têm saúde frágil: estão sujeitas a problemas nos olhos, ouvidos e pernas e a distúrbios do sistema neurovegetativo.



16. ALÁFIA ONAN

Regente: Ifá

Elemento: Ar

Calmas, racionais e espiritualizadas, as pessoas com esse ODU têm domínio sobre suas paixões. São excelentes nas áreas de vendas e de artesanato, mas desistem facilmente dos seus projetos e perdem o interesse por aquilo que já conquistaram. Estão sujeitas a problemas cardiovasculares, psíquicos e de visão.

Escrito por Loci Loci Logun

A morte que volta à Terra

O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria (veja os mitos de Oyá).

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.

A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia , ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixan para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.

Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixan.

Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns ,ainda mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual ,também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; e o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

Aulo Barretti Filho

O culto ao Egun

Na Nigéria, o culto a Egungun está relacionado aos ancestrais. O povo Yoruba acredita nesta energia porque entendem que não existiria o presente e o futuro, sem a existência do passado. O culto é um dos mais difundidos em toda a população Yoruba. Na Nigéria são quase 30 milhões de pessoas que cultuam Egungun. Para se ter uma idéia da força desta energia, na Nigéria os três orixás mais cultuados são Exu, Ogun e Egungun. Egum ou Egum-gum em Nagô, quer dizer Osso. Mas o seu significado é mais amplo, significando também “alma de pessoa morta”.

Egungun é considerado orixá – ele é a única energia que dá ao homem condições de ser venerado depois de sua morte, dependendo do histórico da vida da mesma.O culto a Egungun é altamente mágico e secreto, por isso os Olojés (pessoas que tem o poder de manipular a energia de Egungun) são respeitadíssimos. Todas as pessoas podem se beneficiar da energia de Egungun para solucionar problemas no amor, trabalho, saúde, espiritualidade, etc.

No Brasil o culto não é difundido como na Nigéria e apesar dos equívocos de alguns pais e mães de santo, na Ilha de Itaparica, existe o culto de Egungun considerado parecido ao da Nigéria. Em Itaparica oculto é totalmente secreto, talvez esse o motivo de não se ter mutilado através dos tempos, da escravidão aos tempos de hoje. O culto é equivocado no Brasil pois muitas pessoas dizem que Egun é energia
negativa, e isso não é verdade.


Egun = Babaegun (uma coisa só) = Energia positiva
Oku orun (cidadão do orun) = Energia positiva
Oku (espírito sem procedência) = Energia negativa

O que falta, talvez para as pessoas do Brasil, seria informações sobre Egungun. O povo Yoruba acredita em reencarnação, pois Egungun está interligando vida e morte: assim que uma criança nasce, eles fazem todo um procedimento para saber o destino da criança, manipulam oráculos, ou então pedem a ajuda de babalawo que através de ifá, sabem se a criança é uma encarnação de algum antepassado. Constatando-se o
fato, é feito o ritual de ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada para a comunidade com uma festa.

Este ritual de ikomojade é feito dessa maneira: para o menino só depois de sete dias de vida e a menina após nove dias. O nome é muito importante para os Yoruba.Se os babalawo, ao consultarem o oráculo, constatam que a criança é uma reencarnação de um antepassado, determinam o nome de babatunde (para meninos) e iyabode (para meninas). Esses nomes são utilizados no caso de reencarnação dos avós. Existem outros nomes que são dados dependendo do que for analisado pelo oráculo, trazendo sorte ao destino da pessoa:

Egun Sola
Egun Biyi
Egun Wale Oje Wale
Egun Gbami
Arugbo
Iyagba


Culto a Baba Egum na África.

No contexto yoruba, a morte é dolorosa, mas necessária para o ciclo da reencarnação até que a mesma pessoa que morra, cumpra o seu plano de ori e dependendo do histórico de vida a pessoa possa se englobar na energia de egungun tornando-se venerável para a comunidade ou sociedade. Na Nigéria, quando uma pessoa morre muito cedo, a sociedade e as pessoas da comunidade ficam tristes, pois acham que a pessoa não gozou de todos os benefícios terrestres, não aprendeu o que poderia ter sido aprendido, e por isso fazem, durante o enterro, um ritual na floresta chamado Iremoje, onde a família da pessoa morta pede para que nunca mais aconteça aquilo de novo na família da pessoa. Pessoas que morrem muito cedo, não tiveram um destino bem aventurado no contexto deles. Um outro ritual que existe é o chamado Axexe, que também é um ritual fúnebre para pessoas que morrem com mais de noventa anos, para pessoas que são anciãs. No axexe o povo fica alegre e prepara a pessoas como se fosse para um festa: colocam a melhor roupa, penteiamos cabelos do morto, se for mulher fazem trancinhas e pintam o rosto da pessoa e dependendo do grau financeiro da pessoa eles dão uma festa para comemorar o falecimento.

O ritual de axexe pode ser marcado com a presença de duas sociedades Ogboni e as Iyami Osoronga. A presença dessas sociedades é fundamental porque eles têm o poder de evocar a pessoa para conversar e saber como foi a passagem, e se ela quer deixar uma mensagem para a família e se pode ser distribuído os seus pertences para os familiares. A pessoa é preparada para o Iremoje, onde os familiares cantam lamentando a morte e depois cantam o Ijala onde falam das glórias conquistadas pela pessoa em vida, seguindo assim a festa para homenagear a pessoa.

Dependendo do histórico da vida da pessoa que morreu, ela pode se englobar na energia de Egungun, mas para isso acontecer a pessoa teria que ser boa com as pessoas, amiga, ter ajudado a sociedade, enfim,teria que ser bem vista pela comunidade, o destino teria que ser bem aventurado. Nessa ordem a família e a sociedade podem escolher a pessoa como egungun, sendo assim todos beneficiados com a escolha e o Egungun se tornaria guardião da família e da sociedade onde viveu.

Devotos de Egungun podem chegar a uma evolução espiritual muito rápida, por se Egungun ligado à ancestralidade, isso quer dizer, a pessoa desenvolve uma intuição, percepção e sabedoria muito apurada, tornando-se assim muito forte (olojé).Olojé são pessoas que manipulam as energias de Egungun. Esse título é concebido a homens. As mulheres não podem manipular essa energia, mas podem se beneficiar através dos olojés.

Gelede: Culto ao ancestral feminino, força também manipulada por homens. As mulheres só veneram as geledes. Existe grande ligação com as Iya Mi Osoronga onde as anciãs são profundas conhecedoras e na maioria das vezes iniciadas nessa sociedade.

Cada sociedade das descritas acima, promove a sua festa anual, que pode durar de 7 a 21 dias. Nesses dias os olojés e a comunidade, se preparam para organizar a festa onde o Egungun se materializa com o corpo coberto de panos e a máscara mágica (força essencial do Egungun), onde ele vem para abençoar toda a comunidade e os familiares. A única participação da mulher no culto de Egungun é marcada na benção da Iya Agan (mulher velha que conhece o culto de Egungun). Sem essa benção Egungun não sai pela comunidade.

Eles vão de casa em casa abençoando com o erukere os seus cultuadores, família e comunidade na qual é o guardião, sempre acompanhado pelos Atokuns que guiam o Egungun para todos os lados. Os atokuns usam um tambor para direcionar o Egungun.

Os olojés por sua vez, levam a magia de Egungun para as praças mostrando ao público o seu poder. Por exemplo, os olojés usam o poder de Egungun para fazer uma bananeira dançar. Isso geralmente acontece no final da Festa de Egungun.A festa é marcada por muita música, comidas fartas, alegria e grandeza.

Na Nigéria existe a iniciação para Egungun, porém há vários critérios a se analisar:

1º - Analisar o grau de ligação da pessoa com Egungun
2º - Herança familiar (odu de nascimento)
3º - Vontade da pessoa
4º - A pessoa pode estar sonhando com Egungun
5º - Consulta através dos oráculos podem determinar a iniciação


Todos estes elementos podem determinar a iniciação da pessoa em Egungun. Esse processo de iniciação é muito secreto. Para a pessoa ser iniciada em Egungun, ela tem que ser uma pessoa que saiba guardar segredo: o bom feiticeiro não revela seus dotes mágicos. A pessoa sela um pacto de segredo. Esse pacto só será fechado depois que a pessoa come elementos preparados para dar ligação da pessoa com Egungun. Aí ela se tornará membro do culto a Egungun e com o tempo ela será um verdadeiro Olojé. Claro que ela tem que ter força de vontade,humildade e paciência, lembrando-se de que uma vez iniciado sempreiniciado pois não tem mais volta.

O assentamento de Egungun é formado por Iyangi, vários atori, osso da canela de pessoas que já morreram, meias e um véu para tampar o rosto.Uma pessoa viva veste todas estas roupas para o Egungun se materializar. A pessoa fica em transe com o egungun materializado.

Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os iorubanos – um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente religiosa – nos enriqueceram com o culto de divindades denominadas genericamente de orixás.(1 – Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os termos em língua
yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)

Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível e angustiante para eles não reencarnar.

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada também de Iá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder de ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas “Sociedades Geledê”, compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.

Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro.Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Iami Oxorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Iami quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Iami é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas “Sociedades Egungum”. Estas têm como finalidade celebrar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte,denominada Egum ou Egungum. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá,ambas em Itaparica, Bahia.

O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele “nasce” através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a “morte se torne vida”, e o Egungum ancestral individualizado está de novo “vivo”.

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas,perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito.

Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente -característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas,contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.

A roupa do Egum – chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a “morte”, ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egum se tornará um “assombrado”, e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.

Ora, o Egum é a materialização da morte sob as tiras de pano, e ocontato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes – como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns – desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixã.

Os Egum-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egum (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas, formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso oaxé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egum portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas,e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos – estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egum ali cultuado – , e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.

Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egum a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé – a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns.

No balé os ojê atokun vão invocar o Egum escolhido diretamente no assentamento, e é neste local que o awo (segredo) – o poder e o axé de Egum – nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egum se torna visível aos olhos humanos.

Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é realmente perfeito.

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia dos outros,sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.

Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras,pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras eprivilegiadas mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá;elas são geralmente iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egum -estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão,respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los.

Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com seus descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a “morte” da “vida”. É através do ixã que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. Ás vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egum com o ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egum em vida pertencia a um determinado orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e esta característica é mantida pelo Egum. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo com Egum, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um ox(machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelo oiê femininos,que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis,falará em um possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum começará perguntando pelos seus fiéis maisfreqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário,fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.

Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos,Babá-Egum parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.

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